Em entrevista à RBA, ex-presidente admite ‘certa tristeza’ com saída de Eduardo Campos, mas que ainda trabalha com possibilidade de aliança em 2014. Em São Paulo, vê PSDB sofrer ‘fadiga de material’
Por Rede Brasil Atual
Foto: RICARDO STUCKERT FILHO / INSTITUTO LULA
O ex-presidente Lula, durante entrevista em que anunciou ‘estar no jogo’ das eleições de 2014 e declarou confiança em segundo mandato de Dilma
São Paulo – Entusiasta de comparações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva olha para o primeiro mandato de Dilma Rousseff e afirma: o segundo será “infinitamente melhor”. O otimismo do petista nasce de sua própria experiência, em que foi da esperança das eleições de 2002 a uma primeira gestão marcada pela manutenção de uma política econômica de baixo crescimento e criação tímida de empregos, somada a denúncias envolvendo o chamado mensalão, e terminou com uma segunda perna de administração dominada por expansão do PIB, criação recorde de postos de trabalho, redução da pobreza e índices de popularidade inéditos.
“Não queria reeleição porque tinha um medo desgraçado de segundo mandato”, confessa, na segunda parte da entrevista concedida ontem (24) a RBA, TVT e jornal ABCD Maior.
Pouco antes, o ex-presidente lançara mão de outra comparação para explicar por que tinha grande receio do que poderia acontecer durante seu governo. Lula olhava para o exemplo polonês e sabia que um operário na presidência não podia falhar: Lech Walesa, líder sindical durante o período de governos comunistas, tornou-se o primeiro presidente eleito logo após a queda do antigo modelo, em 1990. Cinco anos mais tarde, acabou derrotado no segundo turno por uma diferença de três pontos, e nas eleições seguintes não passou de 1% dos votos.
Com esses dados em mãos, Lula faz os cálculos para que o PT saia vencedor em 2014. Sem consultar a bola de cristal que garante não ter, o ex-presidente recorda que Dilma precisa de 257 deputados e 42 senadores para construir a maioria simples e poder governar. “Eu trabalho com a ideia de que a presidenta Dilma deve fazer um esforço para manter sua base de sustentação”, diz, deixando claro a quem imagina a possibilidade de rupturas qual caminho pretende tomar.
Nesse sentido, o petista observa com “certa tristeza” a saída do PSB da base aliada, dando fim, por enquanto, a uma aliança firmada em 1989 e mantida nos três mandatos do PT no Planalto. Apesar da pretensão do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de ser candidato à Presidência, Lula ainda trabalha com a perspectiva de que a parceria seja mantida em torno de Dilma e, se não for possível, que ao menos a campanha se dê em tom civilizado, já com vistas ao segundo turno.
Na segunda parte da entrevista, ele comenta também as chances do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, na disputa pelo governo de São Paulo contra Geraldo Alckmin. Confira.
Gostaria que o senhor comentasse o cenário para 2014. Temos novidades na base aliada, com a possível saída do PSB. É possível fazermos um governo com uma base aliada mais enxuta?
O problema de fazer uma avaliação de 2014 é que eu precisaria de uma bola de cristal na minha frente. O que eu falar aqui pode ser desmentido em um semana com o posicionamento de um partido político. Primeiro: eu trabalho com a ideia de que a presidenta Dilma deve fazer um esforço para manter sua base de sustentação.
Uma coisa o eleitor precisa compreender, quando fala que no Congresso tem isso, que tem aquilo: essa gente foi eleita pelo povo. Que essa gente vota no Congresso e que pra Dilma ter alguma coisa aprovada ela precisa de 41 senadores e 257 deputados na Câmara. Se não, não ganha. Apenas boa vontade não ganha. Não se esqueçam que eu fui presidente da República e que meu partido tinha 13 senadores em 81 e 80 deputados, de 513. Não tem milagre.
Se eu quiser aprovar as coisas você tem que fazer coalizão. Por isso, acho que a Dilma deve manter a base. Veja nos Estados Unidos, onde só tem dois partidos. Vejam o que o Obama passa. Os republicanos passam oito anos sem aprovar nada. Quer facilidade, elege a maioria. No fundo, no fundo, o principal é exercitarmos a democracia. Compor com a força política que existe e que concorda com seu programa e fazer um programa o mais transparente possível.
Acho que a maioria vai ficar com ela, que os tucanos vão ter candidato, talvez façam uma coalizão com o DEM, ou com outros partidos de direita, mas eles não podem fazer uma coligação com a imprensa, que é o grande aliado deles. Mas, de qualquer forma, vamos ter que esperar o dia 5 do próximo mês para saber sobre o registro do partido de Marina Silva (Rede) o do Paulinho (Solidariedade). Se a Marina conseguir, ela certamente será candidata. O Eduardo Campos (PSB) quer ser, mas já me disse que só decide em março ou abril do ano que vem. O PSDB ainda não sabe se vai de Aécio ou se o José Serra vai tentar criar um caso.
Para um candidato disputar uma eleição em condição de vitória ele precisa de uma das duas coisas: ou ter toda a eleite ao seu lado, com apoio irrestrito da grande imprensa e com muito dinheiro, como foi o Collor em 1989. O outro é você ter um partido político forte. Além, claro, de um bom candidato, que sem candidato forte não adianta nada. Este partido forte precisa ter a capacidade de fazer uma aliança com outros partidos, de preferência de esquerda e centro-esquerda. E depois pensamos as composições. É um jogo de costura. Tem partido que diz que apoia a Dilma no governo federal, mas em outros estados apoia o candidato do outro lado. Então, quem ele vai defender na campanha?
Acredito que nunca estivemos tão próximos de vencer as eleições em São Paulo. Por isso é preciso dividir o lado de lá. É preciso alcançar alianças além do PT, do PDT, do PCdoB, para, então, construirmos um discurso apropriado. Estamos no caminho certo.
Acho que o quadro é favorável. Falo da Dilma com muito orgulho. Vejo as pessoas colocarem defeitos na Dilma, essa história que ela não gosta de conversar. Cada um tem um estilo. O que eu tenho consciência é que poucas vezes no mundo tivemos uma presidente tão decente como a Dilma. De caráter, competente e séria. Isso é condição fundamental para que o Brasil continue a trajetória que conseguimos implantar nos últimos dez anos.
Qual será o seu papel nas eleições?
O meu papel será o papel que a Dilma quiser que seja. Tenho que ter muito cuidado porque não posso conversar com um partido político sem que tenha orientação da presidenta ou do partido. Uma coisa que sei fazer, e espero estar em condições disso, é pedir voto. Me considero razoável de palanque. Gosto, me sinto bem. Agradeço a Deus todos os dias pela relação de confiança que a população construiu comigo.
Certamente que hoje ela precisa menos do que precisava em 2010 porque é a presidenta, está no mandato, tem exposição mais forte, vai ser julgado pelo que já está fazendo.
Mas vou fazer o mesmo esforço que fiz em 2010. É como se fosse a minha campanha. A vitória da Dilma é a minha vitória. O sucesso dela é o sucesso do povo brasileiro, das camadas mais pobres. É difícil, gente, porque nem todo mundo acha prazeroso a ancensão dos mais pobres. Tem gente que fica incomodada dos mais pobres terem acesso a universidades, a restaurantes, a exposições nas bienais. Tem gente que acha que conquistou aquilo, o que o pobre vem encher o saco. É um gesto ruim, pois acredito que, quanto mais o pobre ascender, melhor será para todos, já que a classe média sobe junto e todo mundo ganha. Quando não tivermos mais miseráveis teremos menos violência, menos assaltos. Não é assim que a gente quer?
Isso que temos que ter consciência que a Dilma pode nos ajudar a construir nos próximos anos. Como eu, ela vai fazer um segundo mandato infinitamente melhor que o primeiro. E falo com convicção de quem tinha medo do segundo mandato. Não queria reeleição porque tinha um medo desgraçado de segundo mandato. Por isso pensamos um pacto. Quero saber o que vou fazer dia 1º de janeiro de 2007 e o que vou fazer em 31 de dezembro de 2010. Foi aí que demos um salto extraordinário.
A saída do PSB preocupa?
Vi com certa tristeza o afastamento do Eduardo Campos do governo. Tínhamos tido uma polêmica em Pernambuco na eleição para prefeito e depois outra divergência na prefeitura de Fortaleza e isso criou uma fissura entre o PT e o PSB. Mas eu trabalhava e continuo trabalhando com a perspectiva de continuar o que estamos fazendo juntos na campanha nacional. Acho que é muito importante do ponto de vista simbólico a manutenção da aliança PT-PSB. Se não der para a gente estar junto, o que precisamos estabelecer como regra é fazermos uma campanha civilizada e que a gente possa estar junto no segundo turno. O PSB tem consciência da importância da Dilma, o PT tem consciência da importância do Eduardo. Prefiro esperar março até porque ele já disse que não tomará nenhuma decisão sem conversar comigo.
A disputa no estado de São Paulo está aberta?
Os tucanos estão num processo de fadiga de material. Eles não têm mais o que propor. Isso não significa dizer que o governador está acabado, está fraco. Alckmin é uma figura com força política no estado e precisamos ter habilidade para derrotá-lo. Acho que ele não tem mais proposta para o ABCD, ou para a Região Metropolitana. Não tem mais o que fazer a nível estadual. São Paulo está perdendo força, está perdendo nível industrial. Não tem proposta para a educação. É muito desagradável quando pegamos as avaliações do MEC sobre o ensino fundamental e vemos que São Paulo está entre os piores estados. Está provado que o crime organizado derrotou o governo de São Paulo. Então, parece uma coisa sem controle. Acredito que se o Padilha for realmente o indicado, teremos um ótimo candidato em São Paulo.
“Não queria reeleição porque tinha um medo desgraçado de segundo mandato”, confessa, na segunda parte da entrevista concedida ontem (24) a RBA, TVT e jornal ABCD Maior.
Pouco antes, o ex-presidente lançara mão de outra comparação para explicar por que tinha grande receio do que poderia acontecer durante seu governo. Lula olhava para o exemplo polonês e sabia que um operário na presidência não podia falhar: Lech Walesa, líder sindical durante o período de governos comunistas, tornou-se o primeiro presidente eleito logo após a queda do antigo modelo, em 1990. Cinco anos mais tarde, acabou derrotado no segundo turno por uma diferença de três pontos, e nas eleições seguintes não passou de 1% dos votos.
Com esses dados em mãos, Lula faz os cálculos para que o PT saia vencedor em 2014. Sem consultar a bola de cristal que garante não ter, o ex-presidente recorda que Dilma precisa de 257 deputados e 42 senadores para construir a maioria simples e poder governar. “Eu trabalho com a ideia de que a presidenta Dilma deve fazer um esforço para manter sua base de sustentação”, diz, deixando claro a quem imagina a possibilidade de rupturas qual caminho pretende tomar.
Nesse sentido, o petista observa com “certa tristeza” a saída do PSB da base aliada, dando fim, por enquanto, a uma aliança firmada em 1989 e mantida nos três mandatos do PT no Planalto. Apesar da pretensão do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de ser candidato à Presidência, Lula ainda trabalha com a perspectiva de que a parceria seja mantida em torno de Dilma e, se não for possível, que ao menos a campanha se dê em tom civilizado, já com vistas ao segundo turno.
Na segunda parte da entrevista, ele comenta também as chances do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, na disputa pelo governo de São Paulo contra Geraldo Alckmin. Confira.
Gostaria que o senhor comentasse o cenário para 2014. Temos novidades na base aliada, com a possível saída do PSB. É possível fazermos um governo com uma base aliada mais enxuta?
O problema de fazer uma avaliação de 2014 é que eu precisaria de uma bola de cristal na minha frente. O que eu falar aqui pode ser desmentido em um semana com o posicionamento de um partido político. Primeiro: eu trabalho com a ideia de que a presidenta Dilma deve fazer um esforço para manter sua base de sustentação.
Uma coisa o eleitor precisa compreender, quando fala que no Congresso tem isso, que tem aquilo: essa gente foi eleita pelo povo. Que essa gente vota no Congresso e que pra Dilma ter alguma coisa aprovada ela precisa de 41 senadores e 257 deputados na Câmara. Se não, não ganha. Apenas boa vontade não ganha. Não se esqueçam que eu fui presidente da República e que meu partido tinha 13 senadores em 81 e 80 deputados, de 513. Não tem milagre.
Se eu quiser aprovar as coisas você tem que fazer coalizão. Por isso, acho que a Dilma deve manter a base. Veja nos Estados Unidos, onde só tem dois partidos. Vejam o que o Obama passa. Os republicanos passam oito anos sem aprovar nada. Quer facilidade, elege a maioria. No fundo, no fundo, o principal é exercitarmos a democracia. Compor com a força política que existe e que concorda com seu programa e fazer um programa o mais transparente possível.
Acho que a maioria vai ficar com ela, que os tucanos vão ter candidato, talvez façam uma coalizão com o DEM, ou com outros partidos de direita, mas eles não podem fazer uma coligação com a imprensa, que é o grande aliado deles. Mas, de qualquer forma, vamos ter que esperar o dia 5 do próximo mês para saber sobre o registro do partido de Marina Silva (Rede) o do Paulinho (Solidariedade). Se a Marina conseguir, ela certamente será candidata. O Eduardo Campos (PSB) quer ser, mas já me disse que só decide em março ou abril do ano que vem. O PSDB ainda não sabe se vai de Aécio ou se o José Serra vai tentar criar um caso.
Para um candidato disputar uma eleição em condição de vitória ele precisa de uma das duas coisas: ou ter toda a eleite ao seu lado, com apoio irrestrito da grande imprensa e com muito dinheiro, como foi o Collor em 1989. O outro é você ter um partido político forte. Além, claro, de um bom candidato, que sem candidato forte não adianta nada. Este partido forte precisa ter a capacidade de fazer uma aliança com outros partidos, de preferência de esquerda e centro-esquerda. E depois pensamos as composições. É um jogo de costura. Tem partido que diz que apoia a Dilma no governo federal, mas em outros estados apoia o candidato do outro lado. Então, quem ele vai defender na campanha?
Acredito que nunca estivemos tão próximos de vencer as eleições em São Paulo. Por isso é preciso dividir o lado de lá. É preciso alcançar alianças além do PT, do PDT, do PCdoB, para, então, construirmos um discurso apropriado. Estamos no caminho certo.
Acho que o quadro é favorável. Falo da Dilma com muito orgulho. Vejo as pessoas colocarem defeitos na Dilma, essa história que ela não gosta de conversar. Cada um tem um estilo. O que eu tenho consciência é que poucas vezes no mundo tivemos uma presidente tão decente como a Dilma. De caráter, competente e séria. Isso é condição fundamental para que o Brasil continue a trajetória que conseguimos implantar nos últimos dez anos.
Qual será o seu papel nas eleições?
O meu papel será o papel que a Dilma quiser que seja. Tenho que ter muito cuidado porque não posso conversar com um partido político sem que tenha orientação da presidenta ou do partido. Uma coisa que sei fazer, e espero estar em condições disso, é pedir voto. Me considero razoável de palanque. Gosto, me sinto bem. Agradeço a Deus todos os dias pela relação de confiança que a população construiu comigo.
Certamente que hoje ela precisa menos do que precisava em 2010 porque é a presidenta, está no mandato, tem exposição mais forte, vai ser julgado pelo que já está fazendo.
Mas vou fazer o mesmo esforço que fiz em 2010. É como se fosse a minha campanha. A vitória da Dilma é a minha vitória. O sucesso dela é o sucesso do povo brasileiro, das camadas mais pobres. É difícil, gente, porque nem todo mundo acha prazeroso a ancensão dos mais pobres. Tem gente que fica incomodada dos mais pobres terem acesso a universidades, a restaurantes, a exposições nas bienais. Tem gente que acha que conquistou aquilo, o que o pobre vem encher o saco. É um gesto ruim, pois acredito que, quanto mais o pobre ascender, melhor será para todos, já que a classe média sobe junto e todo mundo ganha. Quando não tivermos mais miseráveis teremos menos violência, menos assaltos. Não é assim que a gente quer?
Isso que temos que ter consciência que a Dilma pode nos ajudar a construir nos próximos anos. Como eu, ela vai fazer um segundo mandato infinitamente melhor que o primeiro. E falo com convicção de quem tinha medo do segundo mandato. Não queria reeleição porque tinha um medo desgraçado de segundo mandato. Por isso pensamos um pacto. Quero saber o que vou fazer dia 1º de janeiro de 2007 e o que vou fazer em 31 de dezembro de 2010. Foi aí que demos um salto extraordinário.
A saída do PSB preocupa?
Vi com certa tristeza o afastamento do Eduardo Campos do governo. Tínhamos tido uma polêmica em Pernambuco na eleição para prefeito e depois outra divergência na prefeitura de Fortaleza e isso criou uma fissura entre o PT e o PSB. Mas eu trabalhava e continuo trabalhando com a perspectiva de continuar o que estamos fazendo juntos na campanha nacional. Acho que é muito importante do ponto de vista simbólico a manutenção da aliança PT-PSB. Se não der para a gente estar junto, o que precisamos estabelecer como regra é fazermos uma campanha civilizada e que a gente possa estar junto no segundo turno. O PSB tem consciência da importância da Dilma, o PT tem consciência da importância do Eduardo. Prefiro esperar março até porque ele já disse que não tomará nenhuma decisão sem conversar comigo.
A disputa no estado de São Paulo está aberta?
Os tucanos estão num processo de fadiga de material. Eles não têm mais o que propor. Isso não significa dizer que o governador está acabado, está fraco. Alckmin é uma figura com força política no estado e precisamos ter habilidade para derrotá-lo. Acho que ele não tem mais proposta para o ABCD, ou para a Região Metropolitana. Não tem mais o que fazer a nível estadual. São Paulo está perdendo força, está perdendo nível industrial. Não tem proposta para a educação. É muito desagradável quando pegamos as avaliações do MEC sobre o ensino fundamental e vemos que São Paulo está entre os piores estados. Está provado que o crime organizado derrotou o governo de São Paulo. Então, parece uma coisa sem controle. Acredito que se o Padilha for realmente o indicado, teremos um ótimo candidato em São Paulo.