* Alencar Santana Braga
Há menos de seis meses, mais de 200 escolas foram ocupadas em todo o Estado de São Paulo.
Na época, os estudantes secundaristas pediam melhorias na infraestrutura, nas condições de trabalho de professores e servidores e o fim da chamada reorganização escolar, com a ameaça de fechamento de salas e escolas.
Depois da pressão e da luta desses meninos e meninas de muita garra, o Governo Alckmin voltou atrás, cancelou a reorganização e prometeu sentar para dialogar.
Mas a promessa não foi cumprida. Na surdina, salas foram fechadas e alunos e professores transferidos, mostrando mais uma vez como os tucanos fazem de nosso estado um território das elites e contra a população.
Em seguida, surgem graves denúncias sobre a chamada Máfia da Merenda: uma organização criminosa envolvendo políticos do primeiro escalão de Alckmin, membros de cooperativas de alimentos e, segundo denúncias, parlamentares paulistas, dentre eles o próprio Presidente da Assembleia Legislativa. O esquema todo foi mapeado e as investigações indicaram desvios de verba para a compra de merenda escolar, deixando milhares de alunos sem refeições adequadas e desvios milionários aos cofres públicos.
Sem a devida atenção da grande imprensa, e mesmo com as constantes denúncias feitas por grupos sérios de mídia e jornalismo, como o Jornalistas Livres, o esquema da merenda ficou em segundo plano nas pautas tanto do Governo quanto da ALESP, numa tentativa de desviar o foco e abafar o caso.
Deputados de oposição a Alckmin tentam instalar uma CPI para investigar as denúncias, mas os governistas vêm fazendo de tudo para não permitir uma apuração dos fatos dentro do Legislativo.
Novamente foi a vez dos secundaristas entrarem em cena, em defesa da CPI e da punição dos ladrões de merenda: diversas ocupações aconteceram em toda a região metropolitana, sendo as mais emblemáticas a do Centro Paula Souza e da própria Assembleia Legislativa.
A primeira acabou pela manhã desta sexta-feira (06), por ação de reintegração de posse por parte da Polícia Militar, que tirou os estudantes à força, e a segunda acabou pacificamente, por decisão dos próprios manifestantes. No entanto, a calmaria deve ser temporária e os estudantes prometem mais ações em defesa da educação pública e de qualidade.
É preciso se levar a fundo a investigação, descobrir os desvios e seus culpados e punir no rigor da Lei.
O Governo do Estado de São Paulo tem sido blindado nos últimos anos, apesar do descaso em áreas estratégicas como a Segurança Pública, os transporte público e a educação. Mas, neste último caso, a briga é mais dura, porque de um lado estão aqueles que querem sucatear tudo que é público, para implementar sua agenda neoliberal e seu programa de sucateamento das instituições do Estado, como a USP, a UNESP, a Unicamp, a FATEC e as ETECs, mas do outro lado estão os secundaristas, dispostos a ocuparem escolas, demonstrarem vigor e capacidade de organização e darem o tom de que a luta será dura, pois sabem ser o futuro dependente das escolhas de hoje, e exigem uma educação de qualidade e o combate à corrupção endêmica instaurada no Estado de São Paulo.
Parabéns, mais uma vez, aos estudantes paulistas. Se a luta é pela educação, ela é a luta de todos nós.
*Alencar Santana Braga é Deputado Estadual (PT-SP) e Presidente da Comissão de Infraestrutura da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.