Na Entrevista LD, parlamentar fala sobre atuação da Bancada na Câmara paulista e defende seu projeto de lei que destina vagões exclusivos para mulheres no transporte público de São Paulo
Por Mariana Blessa – Portal Linha Direta
Em seu segundo mandato como vereador pela cidade de São Paulo, Alfredinho é o convidado desta edição do Entrevista LD. O parlamentar conta sua trajetória política, que começa na luta sindical e passa pela fundação do Partido dos Trabalhadores, pelo qual é líder da Bancada na Câmara de Vereadores. Temas como manifestações de junho de 2013 e conjuntura política nacional fazem parte deste bate-papo, que também aborda o Projeto de Lei 138/2011 aprovado em 1º de outubro deste ano e que destina vagões específicos para mulheres no transporte coletivo.
Leia abaixo a entrevista completa:
Portal Linha Direta: Sua atuação política começou na luta sindical, pelo direito do trabalhador. Hoje, está em seu segundo mandato como vereador em São Paulo. O que você destaca desta trajetória?
Vereador Alfredinho: A luta sindical tem pauta específica, que é o interesse direto de uma categoria. Como parlamentar, tenho uma luta mais ampla. Um parlamentar trabalha para fazer projetos de lei que beneficiem toda a sociedade, para fiscalizar os atos do executivo e para dialogar com toda a comunidade – que traz diversos problemas e reivindicações. Esta é a diferença entre a luta sindical e minha atuação como parlamentar. Embora muitos sindicatos já tenham avançado, e muitos deles já debatem outros temas além da pauta específica, a luta da categoria ainda é o principal.
Portal LD: O que te levou a sair do sindical e partir para a atuação parlamentar?
Vereador Alfredinho: Tudo na vida tem ciclo. Na luta sindical há dois caminhos: ou se aposenta como dirigente sindical ou continua a luta em algum partido político. Minha militância foi muito casada entre o movimento sindical e a luta partidária. Quando comecei a atuar, foi no início da fundação do Partido dos Trabalhadores. Participei das primeiras campanhas, mesmo ainda não priorizando a militância efetiva do partido. Me lembro da primeira campanha de 1982 do Lula e do Suplicy em 1985, além de todas as outras campanhas. Na fundação do PT, Lula me disse: “a gente tem que criar um partido de trabalhadores porque quando precisamos debater jornada de trabalho e direitos trabalhistas, quem aprova é a Câmara e o Senado. A maioria dos políticos são patrões ou grandes latifundiários e banqueiros”. Foi assim que começamos a entender e militar efetivamente no PT. Comecei em núcleos de bairros, que hoje viraram os diretórios zonais. Depois passei pelo governo na gestão Marta e hoje sou membro do Diretório Municipal de São Paulo. Então veio a ideia da candidatura a vereador. Saí em 2004 e não entrei por menos de dois mil votos. Mantivemos a ideia e o projeto para 2008 – quando me elegi pela primeira vez. Em 2012 veio a reeleição. Esta é apenas uma parte da trajetória.
Quando saí do Piauí em 1979, ingressei em uma metalúrgica na zona sul de São Paulo. A partir dali, comecei a atuar como oposição ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (no período presidido por Joaquim dos Santos, o Joaquinzão). Em seguida, veio a fase do Medeiros. Fiquei algum tempo na oposição e apareceu a oportunidade de ir trabalhar na Ford, em São Bernardo do Campo. Isso foi em 1993. Três anos depois fui para a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e, no meio do segundo mandato, vim exercer o cargo de Chefe de Gabinete na subprefeitura de Capela do Socorro.
Portal LD: Hoje você é líder do PT na Câmara Municipal, qual a dimensão de representar o partido e como se dá esta atuação?
Vereador Alfredinho: Veja, ser líder de uma Bancada com 11 vereadores não é fácil – principalmente por ser o PT. O Partido dos Trabalhadores é diferenciado de todos os outros partidos, tanto aqui em São Paulo quanto em Brasília. Isto porque, o PT debate temas, projetos e processos de encaminhamento e votação. Aqui, quando fechamos uma posição, a bancada fecha junto. Mesmo aqueles que são contrários, votam junto com a Bancada quando há uma maioria. Sendo assim, a Bancada nunca vota rachada, separada. Fora esta atuação, sendo governo temos que nos preocupar com ele. O líder de governo, por sua vez, tem que dialogar com os vereadores. Como líder da Bancada, tenho que fazer esta frente. É uma função corrida, principalmente com a votação de projetos polêmicos. A política é a arte do diálogo. Parlamento tem esse nome porque é um diálogo permanente. Como líder de um partido com a maior bancada, minha função é dialogar constantemente e levar sempre a bancada unida em termo de projetos. Como já falei, é uma bancada que gosta de debater.
Portal LD: Você nasceu no Piauí e escolheu São Paulo para morar. Como avalia esse momento político, com a eleição do prefeito Haddad?
Vereador Alfredinho: Haddad ganhou a eleição, uma eleição difícil. Ter um candidato que sai de 3%, leva a disputa para o segundo turno e ganha a eleição não é fácil. Com o bom momento da economia brasileira, nestes últimos dez anos, São Paulo também cresceu economicamente. Contudo, nos dois governos anteriores, a prefeitura de São Paulo ficou com sérios problemas: saúde, educação e transporte coletivo – este último, tema das recentes manifestações. Então, quem elegeu Fernando Haddad, votou com a esperança de resolver estes problemas. O governo está com dez meses e já há a cobrança pela solução. Acredito que as atitudes políticas que o governo tomou, do ponto de vista do diálogo com a população, foram corretas mesmo ainda não tendo mostrado nenhuma ação efetiva. Isto porque um governo com menos de um ano é difícil apresentar uma grande obra, é difícil resolver alguns problemas crônicos como os da saúde. Mas, o governo tem tomado posição e mostrado interesse em resolver. Se formos discutir a saúde, o governo tem se mobilizado para solucionar problemas cruciais como falta de remédios e falta de médico; a prefeitura prometeu a construção de três hospitais na cidade e, para isso, já está em curso a desapropriação de áreas e projetos para a construção. No transporte coletivo, as faixas exclusivas e corredores de ônibus já são realidade – mesmo não sendo uma solução definitiva, ajudam. Além disso tem a construção de terminais e a ampliação e duplicação de vias em toda a cidade. Isto é um conjunto de obras que só vai acontecer ano que vem, pois precisam ser licitadas e precisam de recurso (que parte vem do governo federal). As informações são de que em meados de fevereiro e março começará a vir um grande conjunto de obras no setor do transporte. A partir daí, a população vai sentir melhora no transporte coletivo. Outro problema é que cerca de 70% das pessoas que usam o transporte coletivo na cidade, utilizam o ônibus. Metrô e trem ficam com 30%. Por isso que a questão das faixas exclusivas foram polêmicas, principalmente pra quem tem carro. Além de transportar 70% dos usuários, o ônibus disputa com os carros para circular na cidade. Mas, não é só isso que vai resolver o transporte coletivo.
Em São Paulo, é vergonhosa a quantidade de Metrô que o estado constrói por ano. Temos exemplos de cidades com um potencial econômico menor que o nosso, como é o caso da Cidade do México, que tem mais do que o triplo de malha metroviária. Então é um conjunto de ações que não basta só o município agir, o estado também tem que entrar com sua parte que é construção de trilhos de Metrô e trens. O governo Haddad está no caminho certo em relação ao transporte coletivo na cidade de São Paulo por todos os projetos já propostos e o que já está sendo feito.
O primeiro ano de um governo é o mais difícil. Isto porque trabalha com um orçamento do ano anterior em que não éramos situação. Não foi um orçamento feito naquelas prioridades do programa de governo que nós apresentamos. Então, a partir do ano que vem vamos trabalhar com um orçamento que priorize as propostas do projeto do prefeito Haddad. Tenho certeza que a partir do ano que vem a prefeitura vai dar sinais de melhora; do segundo pro terceiro ano vai se consolidar e no quarto ano teremos um governo totalmente consolidado em condições de disputar eleição novamente aqui, ser reeleito e continuar administrando a cidade.
Portal LD: Desde as manifestações de junho a população tem colocado alguns temas na pauta de discussão política. Como a Bancada atua para responder a essa nova forma de manifestação?
Vereador Alfredinho: Não só a Bancada, mas acredito que o PT interpreta estas manifestações como justas. Vou dar um exemplo bem prático: sou lá do nordeste e, quando ainda morava lá, as pessoas se contentavam em comer feijão com farinha (quando tinha farinha). A vida foi melhorando, o governo Lula deu oportunidade de aposentadoria aos trabalhadores rurais, criou o Bolsa Família e uma série de programas sociais. Então, aquele que comia feijão com farinha passou a comer carne. E ele quer mais melhorias. Para contextualizar ainda mais, na época do meu avô o jegue era o principal meio de transporte no nordeste. Hoje, os jegues estão todos abandonados e as pessoas só querem saber de moto.
Isto é um pouco parecido com estas manifestações. Mesmo aqueles que tiveram melhora na condição de vida, é chegado um momento que esta população quer mais. Ela entende que as situações básicas já foram conquistadas e quer um avanço. Foi assim que surgiram estas manifestações. Embora algumas eu não concorde, como esta história dos mascarados, que ninguém sabe o que eles querem porque não apresentam uma pauta de reivindicação. Agora, aqueles manifestantes que vieram com propostas têm que ser respeitados. Eles têm razão quando dizem que a saúde está ruim e querem melhorias; que a educação está ruim, embora tenha havido melhorias, mas precisa melhorar mais e com mais rapidez. Então eles tem razão. Habitação, também, é outra reivindicação. Em São Paulo tem mais de dois milhões de pessoas morando em áreas de risco ou em favelas em condições precárias. Acho que a presidenta Dilma foi muito bem na resposta, os governos estão empenhados em resolver estes problemas. Acredito que vai ter resposta e será uma resposta positiva.
Portal Linha Direta: Entre os assuntos de destaque está a discussão do respeito à mulher, por meio da criação de um vagão exclusivo no transporte coletivo – projeto de sua autoria. A medida ainda divide opiniões. O que te levou a propor esse modelo e como encarar as opiniões contrárias?
Vereador Alfredinho: Eu sei que é polêmico e que até divide opiniões. Mas é um problema real e que precisa ser debatido. Não adianta ficar reclamando que a mulher é assediada de forma violenta e brutal principalmente no trem e nos ônibus e não achar medidas imediatas. Eu sei que o que resolve é educação, sei que no momento em que as pessoas não precisarem mais andar apertadas umas nas outras também vai resolver, mas também sei que estas não são medidas urgentes. Este projeto não é novidade, tem no Rio de Janeiro e tem em Brasília. Em países como o México, que talvez seja o melhor exemplo, existe uma cultura desde a entrada e os vagões são separados. Lá não há ocorrências de abuso há mais de três anos.
O projeto não torna obrigatório o uso, ele é parecido com o que já existe para pessoas com deficiência, gestantes e pessoas idosas. A ideia é fazer um projeto opcional para mulheres que se sentirem mais seguras naqueles espaços. Não estou querendo separar casais e sim dar uma opção para as mulheres que andam sozinhas e são assediadas. As que não quiserem, podem utilizar o vagão normal, sem problemas.
Eu estava vendo uma reportagem da Globo, em que uma das repórteres chegou a entrar no Metrô com uma câmera escondida e flagrou vários abusos deste tipo. É tanto que qualquer pesquisa que fizer com mulheres na boca do Metrô ou no fundo da zona sul ou da zona leste, chego a arriscar que 90% das mulheres serão a favor do projeto.
O objetivo não é só criar o vagão, mas trazer o debate para a sociedade. Dentro deste debate começa a cobrar melhoria do transporte coletivo e ação educativa. Apenas tive a ideia de fazer o projeto pegando a ideia de outros lugares porque acho que a ação educativa demora pra ter efeito e também não é tão rápido trazer a melhoria do transporte coletivo. A lei também pode intimidar este tipo de ação. Mesmo aquelas mulheres que estiverem no vagão comum estarão mais seguras. Este é o debate, a lei vai dar uma oportunidade e uma opção.
Portal LD: Como construir, aqui em São Paulo, um cenário favorável para as eleições de 2014?
Vereador Alfredinho: Não está oficializado, mas acho que o PT já definiu um candidato. Na minha opinião é um candidato bom, um candidato novo e que vem com a atuação e a coragem de enfrentar o problema dos médicos no Brasil, por meio do programa Mais Médicos. Tem tudo para ganharmos esta eleição. Temos que explorar as contradições do governo do PSDB, que começou com Montoro em 1982 e está há mais de 30 anos no governo do estado. Se formos fazer a conta e ver no que avançamos, fica claro que falta muito a fazer. Muitos problemas cruciais o PSDB não resolveu ou pouco resolveu. É só pautar segurança, saúde e educação, que são temas do dia-a-dia. Temos que explorar estas contradições e apresentar um plano de governo que com o que o Partido dos Trabalhadores pode fazer melhor. Devemos pegar o exemplo do governo federal, que combateu e enfrentou vários problemas cruciais do País e mostrar para a população. Mostrar também que estamos com um candidato novo, com um bom programa e que vamos fazer melhor.
O PT precisa priorizar o interior que é um grande problema. A atual direção do PT-SP fez um investimento grande no interior e acho que isso vai dar resultado. Em São Paulo e na região metropolitana está o maior eleitorado, por isso a campanha deve mirar essa população também. Acho que chegou a vez do PT em São Paulo. A população já não aguenta mais estas três décadas de PSDB. Está na hora de mudar. Trabalhando direito e acreditando, o PT pode ganhar. Até porque o governo Alckmin está desgastado.
É fundamental também motivar e mobilizar a militância. Quando o PT faz isso, essa militância consegue fazer o que ninguém acredita. A capital é um bom exemplo. Além de um bom programa, a confiança da militância foi essencial para ganharmos a eleição no ano passado.
Portal Linha Direta: Como você avalia a atual conjuntura política que o Brasil vem passando?
Vereador Alfredinho: São dez anos de PT no governo federal. Para alguns problemas essenciais apresentamos respostas, mas agora é o momento de dar um salto de qualidade. Precisamos apresentar coisas novas. Claro que tem que debater o Bolsa Família e o ProUni, mas apresentando novidades dentro destes programas que já são realidade. Um exemplo seria ampliar a quantidade de cursos técnicos para qualificar a mão de obra no Brasil, que ainda é um grande problema. Talvez outras novidades no programa econômico do governo. Na saúde, que é um assunto que vai ser muito debatido por causa do Mais Médicos, outra novidade poderia ser ampliar o número de médicos formados no País. É difícil hoje alguém que sai de baixo conseguir ser médico, os cursos são caros e as universidades públicas são poucas. O transporte urbano é um tema amplamente discutido no Brasil hoje e originou estas manifestações. Além disso, tem que apresentar soluções para a vida urbana e para a vida rural. É preciso dar um salto de qualidade daquilo que já foi conquistado. O ser-humano nunca está contente com aquilo que tem, ele sempre quer mais. A presidenta Dilma está bem, recuperando a popularidade e melhorando nas pesquisas, mas tem que saber que precisamos apresentar um programa inovador. Quando dizem que o governo está velho, não quer dizer sobre o tempo que um partido governa e sim se ele apresenta novidades. Quando está dando certo o povo entende e tem a tendência em reeleger.
Para o vereador Alfredinho, “política é a arte do diálogo”
Na Entrevista LD, parlamentar fala sobre atuação da Bancada na Câmara paulista e defende seu projeto de lei que destina vagões exclusivos para mulheres no